Síndrome de Kelly: identificação e tratamento
* Prof. Rafael Ortega Lopes
Certamente todos nós já deparamos com o paciente portador da Síndrome de Kelly. De nome desconhecido por vários cirurgiões-dentistas, a também chamada Síndrome da Combinação, se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas (o que denomina uma síndrome) que nós encontramos no cotidiano clínico.
Em suma, são aqueles pacientes portadores de prótese total superior e prótese parcial removível inferior e que apresentam esta condição bucal há muito tempo: edentulismo total superior e classe I de Kennedy inferior (edêntulo posterior mandibular bilateral). O grande problema desta condição clínica é que o tempo do edentulismo e a falta da manutenção das próteses somado aos hábitos funcionais geram as seguintes condições:
1) Na maxila: atrofia óssea total, principalmente na região anterior com grande mobilidade de tecido mole nesta região e hipertrofia da rugosidade palatina. A báscula da prótese total pela falta de estabilidade e diferença oclusal (força mastigatória antagonista – dentes inferiores) acarreta também na extrusão bilateral do túber maxilar.
2) Na mandíbula: atrofia óssea local severa com perda de altura do rebordo alveolar posterior bilateralmente, extrusão do rebordo anterior dentado, podendo estes elementos dentários estar o não comprometidos periodontalmente.
Desta forma, costuma-se dizer que a mandíbula age como “um martelo” sobre a maxila, gerando todo esta condição. Os sintomas gerados por este colapso oclusal são variados como: dificuldade mastigatória, queixa de instabilidade da prótese superior e/ou inferior (alguns pacientes mal se adaptam com as prótese inferior), além de esteticamente ser evidente a deficiência paranasal e notável excesso vertical da bateria dentada inferior – o que torna aparente no sorriso (inversão da curva de sorriso) ou mesmo ao falar onde o paciente mostra mais os dentes inferiores do que os superiores.
A importância do diagnóstico da Síndrome de Kelly está no seu correto tratamento. Infelizmente, alguns profissionais não se atentam para esta condição e submetem os pacientes a tratamentos invasivos como enxertos posteriores mandibulares para recuperar a altura perdida ou mesmo implantes nestas regiões com riscos de lesão ao nervo alveolar inferior, citando os erros mais comuns.
Acontece que o restabelecimento oclusal não é alcançado, pois normalmente a bateria dentada inferior está extruída e fora de posição… seria então “se guiar pelo o que está anormal”. Desta forma, o correto está na identificação da síndrome e na exodontia dos elementos inferiores, além de amplo desgaste ósseo mandibular anterior para nivelamento da futura prótese sobre implantes e dimensionamento dos componentes protéticos.
O desafio para nós cirurgiões, é fazer o nosso paciente entender que ele deve retirar os dentes (as vezes saudáveis) para uma correta reabilitação oral. É a odontologia… e quem disse que seria fácil?