Dr. Thales Magalhães e a história de preservação da vida no Museu Salles Cunha do Rio de Janeiro

Dr. Thales Magalhães e a história de preservação da vida no Museu Salles Cunha do Rio de Janeiro

Thales Magalhães e a preservação da história

Dizem que o bom filho, à casa torna. Foi o que ocorreu em abril do ano passado, quando o cirurgião-dentista Thales Ribeiro de Magalhães visitou sua terra natal, após muitos anos distantes. Ele nasceu no centro de Piracicaba, na Rua Boa Morte, em 1931, e esteve na cidade para conhecer o Museu da Odontologia mantido pela APCD-Piracicaba e participar de solenidade que comemorou os seus 25 anos de atividades.

Thales é o diretor do Museu Salles Cunha mantido na capital do Rio de Janeiro, um dos mais importantes centros culturais e de história do país. Foi com muita satisfação que ele falou à reportagem do InformAtivo, contando que saiu de Piracicaba quando tinha apenas seis anos de idade devido ao falecimento de seu pai – Hilbebrando Magalhães, funcionário do Banco do Brasil e colaborador da “Gazeta de Piracicaba”. “Outra parte da família morava no Rio de Janeiro e veio buscar minha mãe e seus filhos para iniciar nova vida na capital fluminense”, diz. Seu progenitor era assíduo colaborador da imprensa e da cultura locais dedicando-se também ao jornal “Tribuna de Piracicaba” e lançando por aqui um livro sobre a cultura do café, que, durante esta recente visita, teve um exemplar doado ao Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.

O interesse pela odontologia veio da inspiração de dois tios que eram dentistas. Um deles era catedrático de prótese dentária na Faculdade de Farmácia e Odontologia do Rio de Janeiro (atual Universidade Federal Fluminense). Foi nesta escola de ensino superior que Thales graduou-se em odontologia, em 1955, na última turma que cursou os três anos necessários então para ser cirurgião-dentista. Trabalhou com este tio e se aposentou nesta Faculdade como professor livre docente.

MUSEU – O dr. Thales é o atual diretor do Museu Salles Cunha, mantido pela Secção Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Odontologia (ABO). Visitou Piracicaba exatamente por saber que a cidade é rica na preservação patrimonial e cultural, tendo em vista que possui o Museu da APCD, o Museu Prudente de Morais, o Museu da Água e outros pontos históricos como o Mirante e o Rio Piracicaba. “Possuo um arquivo imenso no Museu Salles Cunha sobre o Museu Drª. Grace H. G. Alvarez mantido pela APCD”, confessa.

Foi ele um dos responsáveis pela criação do Museu Salles Cunha. Aliás, o homenageado com o nome do Museu situado no Rio de Janeiro foi um professor influente em todo o estado carioca lecionando na Faculdade de Farmácia e Odontologia do Rio de Janeiro e na Faculdade Fluminense de Medicina. Conheceu-o em vida. A inclusão na vida de preservação da memória ocorreu por um convite que Salles fez para que ele trabalhasse num jornal da faculdade. Salles mantinha um museu na faculdade de odontologia mais voltado para a área arqueológica. Ele continha peças de estudo para a medicina e pesquisava cemitérios indígenas. O Museu fechou com a morte de Salles e muita coisa se perdeu pela deterioração e pela falta de manutenção.

A ABO assumiu o acervo do Museu convidou Thales a organizá-lo, fundava-se então o Museu Salles Cunha. Nas diretorias que se seguiram a idéia foi alimentada, até que a entidade cedeu em 1985 uma sede situada à rua Barão Sertório n° 75, Rio Comprido). O museu tem sua atuação em diversas áreas, com espaços suficientes para abrigo de acervo, exposição e recuperação. Cenaristas, roteiristas e astros das novelas visitam o Museu para se inspirar no figurino de época.

O Museu possui mais de 4 mil peças. Não só da odontologia. Possui caixas de cigarro, sabonetes, embalagens, pedaços de osso e muito mais. “Até uma peteca de 90 anos, feita com penas de galinha, que foi de uma tia minha, nós temos no acervo”, diz Thales.

O acervo, na área odontológica é imenso. Possui uma reprodução do livro escrito em 1875 sobre a área, possui o diploma original de Isabela Von Sidow a primeira dentista formada no Brasil, além da bíblia da odontologia escrita por Pierre Fouchard em 1746, numa versão reproduzida.

“E daqui para a frente, a preservação da memória já integra o pensamento dos jovens?”, pergunta nosso repórter. O dr. Thales lembra que “museu não é um depósito de coisa velha, e sim um órgão educativo que tem por objetivo guardar a história de ontem para hoje e de hoje para o amanhã”. Segundo ele, a cultura de preservação depende muito de família. “Quando criança – diz – , a eletricidade estava engatinhando e eu sou da geração do rádio; a TV, a geladeira, o ar-condicionado nem existiam”.

Sobre o Museu da APCD, que conheceu quando o mesmo se encontrava na antiga sede situada na rua Rangel Pestana n° 517, o dr. Thales diz que ele é rico, bem estruturado, embora pequeno com relação ao que possui no acervo. Mas isso é comum em qualquer museu. Como há sempre novidade, seus acervos nunca ficam estagnados. Ele lembra que participou de um curso sobre armazenamento realizado no Museu Histórico Nacional e a discussão final era de que, num de seus mezaninos, três ou quatro pianos quebrados estavam ocupando espaço e não se sabia o que fazer, recuperá-los ou jogá-los como sucata. “Jogar fora é pecado”, diz espantado. A reforma técnica é um assunto delicado.

Enquanto existirem pessoas com o pensamento do dr. Thales, com certeza nossa existência será sempre perpetuada.

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