APCD: 50 anos de história
* Antonio Oswaldo Storel – Presidente da APCD/Regional de Piracicaba na gestão 1966/67
A nossa APCD – Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas / Regional de Piracicaba – está completando 50 anos de existência. Criada em março de 1962 com a transformação da antiga Associação dos Odontologistas de Piracicaba (fundada em 1945), a entidade não é apenas um CNPJ envelhecido, mas guarda em suas entranhas as histórias de vida de homens e mulheres que, impulsionados pelo ideal de servir ao coletivo, colocaram todo o seu potencial humano voltado para a construção do bem comum da sociedade.
Ao comemorarmos este jubileu de ouro, além do nosso primordial agradecimento a Deus pelo precioso dom da vida e pelos talentos com que ela nos premia, é preciso registrar o nosso reconhecimento coletivo a uma plêiade de pessoas que fizeram da APCD um organismo vivo, atuante no seio da comunidade piracicabana e pródigo em conquistas pela melhor qualidade de vida da população, no que diz respeito à saúde bucal.
Resgatar a memória para construir a história é um dever de todas as gerações para que não se percam as raízes e o germinar de todo o desenvolvimento que constitui esse processo construtivo da vida da nossa APCD. E aqueles que gozam o privilégio de ter podido acompanhar e participar efetivamente deste longo período têm muita coisa para contar e que precisam ser registradas para que não se percam.
Detalhes, às vezes pitorescos, mas que sempre retratam testemunhos de doação, e que quando são trazidos à tona, podem criar no coração dos mais jovens, a razão fundamental para a dedicação ao trabalho voluntário em prol do coletivo. Lembro-me aqui de um fato interessante que sob a ótica da modernidade pode parecer um tanto quanto absurdo. Como membro da primeira diretoria da APCD, ainda na acanhada sede situada à rua XV de Novembro, sobre o Bradesco, encomendei a um marceneiro que era meu vizinho (na rua XV de Novembro, 1609) uma prateleira de madeira para iniciar uma biblioteca, na sede. Quando o marceneiro entregou a prateleira em minha casa, como não possuía carro, coloquei o móvel nas costas e desci, a pé, de onde morava, duas quadras acima da Escola Sud Mennucci, até a sede que ficava na quadra vizinha à Catedral. Subi as escadarias do prédio e, já dentro da sala acanhada que era nossa sede, me pus a serviço para pendurá-la adequadamente na parede para suportar o peso dos livros. Eis que chega um colega que não me conhecia, procurando por alguma coisa na APCD e me pergunta: “você é funcionário da Associação?”. Quando eu lhe disse que era cirurgião-dentista ele ficou meio assustado.
Outro fato interessante e de grande importância para nossa cidade: o dr. Waldemar Romano, o vereador mais jovem na história da Câmara, tinha conseguido aprovar, em 1967, a lei que obrigava a fluoretação das águas da cidade, um grande benefício à saúde bucal da população. Mas o prefeito, comendador Luciano Guidotti, se negava a colocar a lei em operação. Como eu era muito amigo do José Luiz Guidotti, sobrinho do Prefeito e seu chefe de gabinete, constantemente estava em contato com o prefeito e o cobrava pela medida, explicando-lhe os benefícios que ela traria às nossas crianças pobres com a diminuição das cáries. E ele reagia argumentado, no seu jeitão típico de falar: “vocês querem que coloque flúor na água pro povo lavá ‘tomove’ e ‘moiá’ horta com flúor?” E eu dizia: “Comendador, com flúor na água, as crianças pobres não vão mais ter cáries e a saúde delas vai melhorar”. E então ele argumentava: “E você, que é dentista … se ‘acabá’ as cáries, o que é que você vai ‘fazê’?”. A verdade é que ele morreu e não colocou flúor na água. Só fomos conseguir isso quando o dr. Cássio Padovani, vice-prefeito, assumiu a prefeitura no lugar do Salgot, em 1971. Quando pedimos uma reunião com ele, o nosso grupo formado por representantes da APCD, da FOP, e do Rotary, apresentou-lhe argumentos bastante convincentes e ele chamou imediatamente o engenheiro responsável pelo SEMAE e, na nossa frente deu-lhe um prazo de um mês para apresentar-lhe os custos do processo para que se fizesse a licitação.
Um outro fato que vale a pena resgatar, aconteceu quando eu fui presidente da APCD. A Santa Casa estava sem a prestação de serviço odontológico. Conversando com os colegas, consegui uma lista assinada por uns 30 profissionais que se dispunham a dar um dia de trabalho gratuito por mês, lá no consultório do hospital, levando seus próprios instrumentais e o hospital forneceria os materiais. Propusemos ao diretor clínico da Santa Casa, a organização do Departamento de Estomatologia, do qual todos os colegas voluntários fariam parte. A resposta do diretor da época foi a seguinte: “Eu quero saber, antes, quanto é que a Santa Casa vai ganhar com isso?”. A postura dele matou todo o entusiasmo que nos animava a prestar mais esse serviço a nossa população.
Tenho certeza de que cada um dos colegas que participou da história de vida da nossa tão querida associação tem também muita coisa para contar. Mas o fato de vermos hoje a nossa sede própria sendo construída numa área nobre de mais de seis mil metros quadrados, nos dá a sensação de que o nosso sonho não é mais sonho, tornou-se realidade!
ABRAÇOS A TODOS, DE QUEM OS ADMIRA E RESPEITA.