Santa Apolônia e os dentistas
Waldemar Romano, cirurgião-dentista e ex-presidente da APCD-Regional Piracicaba
Em 9 de fevereiro de 248, em Alexandria, era celebrado com festas o aniversário do Império Romano que se caracterizava por penas rígidas as quais coibiam a doutrina pregada pelos seguidores de Jesus. Esta preocupação evoluía entre os imperadores romanos, pois os cristãos se recusavam a cultuar estes próprios imperadores e a carregar armas. O novo imperador, Décio, que derrotara Felipe, promoveu a sétima perseguição no ano de 249, com penas severas e cruéis, que só acabaram no ano de 251. Sua preocupação não era fazer mártires, mas acabar com os cristãos através de torturas.
Segundo a tradição, os pais de Apolônia não tinham descendentes apesar de suas constantes orações aos seus deuses. Finalmente, a futura mãe pediu a Virgem Santíssima que intercedesse por eles. Quando a jovem Apolônia conheceu as circunstâncias de seu nascimento, tornou-se cristã.
Jovem e bela, filha de um rico magistrado, Apolônia pertencia à Igreja de Alexandria do Egito e foi uma das pessoas que mais lutou pela causa cristã, sendo então perseguida e acusada de traição.
Foi-lhe então imposta uma pena: e em público teria todos os seus dentes partidos com pedras afiadas e seguida seria queimada viva na fogueira. Assim o foi. Porém, nos poucos minutos que lhes foram dados para refletir (se blasfemasse contra os princípios cristãos poderia ser perdoada), ela aproveitou a falta de atenção dos seus torturadores e atirou-se à fogueira, morrendo queimada. Este gesto foi considerado uma atitude de heroísmo. Durante seu suplício, Apolônia pediu a Deus que todos os que viessem a sofrer dor de dentes, ao clamar pelo seu nome – Apolônia – tivessem a dor aliviada. Nesse momento, uma voz ressoou dos céus: “Apolônia, filha de Nosso Senhor Jesus Cristo, tu obterás de Deus a concessão de teu pedido”.
Dizem que depois do seu suplício, seus dentes foram recolhidos como santas relíquias por inúmeras igrejas e santuários nos quais são adorados. No Monastério de Santa Apolônia, em Florença; na Pieve de Castagneto, em Bologna; em Roma, e no sul da França há um santuário onde todos os anos, em 9 de fevereiro, muitos dentistas fazem peregrinação celebrando o evento.
Santa Apolônia foi canonizada no ano 300 e a Igreja marcou o dia de sua morte, 9 de fevereiro, para celebração de sua festa.
Inicialmente considerada a patrona dos pacientes com dores de dentes, Santa Apolônia tornou-se, mais tarde, a Padroeira Universal dos cirurgiões-dentistas, sendo seu culto mais conhecido na França e na Itália.
Foi a partir do Século III que o cristianismo, em plena ascensão, começou a adoração aos santos, geralmente mártires e pessoas muito crentes na fé cristã. Foram escolhidos preferencialmente indivíduos que exerceram a mesma profissão, como São Cosme e São Damião para a medicina e cirurgia. Naquela época não existia a odontologia como profissão autônoma e liberal, e, portanto, nenhum padroeiro específico. Recorreu-se a Santa Apolônia pelos seus sofrimentos bucais.
No Rio de Janeiro, devotos da Santa, liderados pelo prof. Dilson Ávila Tomé, criaram em 1966 uma entidade de nome “Sodalício Santa Apolônia”, sociedade de caráter religioso-filantrópico dos odontólogos. Alguns profissionais de nossa região e, em especial, professores de nossa Faculdade, já receberam a Medalha deste Sodalício em sessões realizadas em Piracicaba.
No município de São José do Rio Preto, interior do Estado de São Paulo, o distrito de Engenheiro Schmidt tem Santa Apolônia como Padroeira. Não temos informação de que qualquer outra localidade em terras brasileiras a tenha escolhido.