Sociedades em consultórios e clínicas – Vantagens e desvantagens

* César Souto e Dr. Roberto Caproni

Antes de iniciar, vamos esclarecer alguns termos técnicos com os quais os profissionais da saúde nem sempre estão familiarizados:

Receitas – são valores pagos pelos clientes;

Custos – são gastos ligados diretamente à produção, como material de consumo utilizado nas consultas ou tratamentos, impostos, serviços de terceiros, laboratório, tarifas financeiras, entre outros;

Despesas gerais – são os gastos necessários à existência do consultório ou clínica, podendo ser fixas ou eventuais e ainda reservas para suprir o imobilizado;

Unidades de Negócios – Cada fonte de receita de um consultório ou clínica.

Esses são os modelos mais comuns de sociedades em consultórios e clínicas:

1 – Sócios modelo divisão de lucros

A receita produzida por todos é somada e dela se abatem os custos e as despesas, gerando o resultado líquido do período (mês, trimestre, semestre etc.). Esse resultado líquido é dividido pelos sócios proporcionalmente ao “%” de sua participação na sociedade, independente de quanto produziu ou trabalhou.

Desvantagem desse modelo:

Em algum momento um dos sócios pode achar que produz mais que o outro e recebe o mesmo ou, que as suas Unidades de Negócio geram mais resultados que as do sócio ou ainda que o sócio está ganhando mais que deveria pelo seu trabalho.

Por exemplo:

A Drª. Patrícia e o Dr. Pedro são casados e produziram, juntos, uma receita total de R$ 35.000,00. Abatem-se desta receita os custos equivalentes a R$ 7.000,00 e as despesas gerais equivalentes a R$ 9.000,00. Portanto o resultado líquido de R$ 19.000,00 é distribuído igualmente em R$9.500 para cada um.

2 – Sócios modelo condomínio

Cada sócio recebe individualmente a receita gerada pelos seus clientes e arca com os seus custos (material de consumo, impostos, serviços de terceiros, laboratório, tarifas financeiras, entre outros). Já as despesas são rateadas por igual entre os sócios. Neste caso os sócios consideram a clínica como o seu consultório particular, onde cada um paga 50% das despesas gerais independentes de quanto fatura ou trabalha. Esse modelo é comum quando não há compartilhamento de clientes.

Por exemplo:

A Drª. Patrícia recebeu dos seus clientes R$ 20.000,00 e teve R$ 4.000,00 de custos. Portanto o seu Lucro Bruto foi de R$ 16.000,00. Já o Dr. Pedro recebeu dos seus clientes R$ 15.000,00 e teve de R$ 3.000,00 de custos. Portanto o seu Lucro Bruto foi de R$ 12.000,00. Se as despesas gerais da clínica somarem R$ 9.000,00 cada um arcará com R$ 4.500,00.

Desvantagem desse modelo:

Algum sócio pode alegar que o outro utiliza mais a clínica para ganhar mais que ele pagando o mesmo valor de despesas.

3 – Sócios modelo cooperativa

Cada sócio recebe individualmente a receita gerada pelos seus clientes e arca com os seus custos. O resultado disso se chama lucro bruto e cada um é responsável pelo seu, arcando com as despesas na proporção que lhe cabe em relação à soma de todos. Quem produz mais lucro para si paga mais despesas.

Por exemplo:

A Drª. Patrícia recebeu dos clientes um total de R$ 20.000,00 e teve de custos um valor de R$4.000,00. Portanto o seu Lucro Bruto foi de R$ 16.000,00. Já o Dr. Pedro recebeu dos seus clientes um total de R$ 15.000,00 e teve de custos o valor de R$ 3.000,00. Portanto o seu Lucro Bruto foi de R$ 12.000,00. Se somarmos o Lucro Bruto dos dois teremos R$ 28.000,00. A Dra. Patrícia correspondeu a 57,14% deste lucro e o Dr. Pedro por 42,86%. Então as despesas (fixas, eventuais e reservas) são rateadas de acordo com o percentual de cada um.

Esse modelo é geralmente adotado quando há compartilhamento de clientes, ou seja, os clientes são captados pela clínica e todos se beneficiam.

Desvantagem desse modelo:

Algum sócio pode alegar que paga mais porque trabalha mais ou porque os seus valores são mais altos, enquanto o outro utiliza a clínica tanto quanto ou mais que ele, se sentindo descompensado.

4 – Parceiro independente em condomínio

Grupo formado por profissionais de especialidades interligadas onde cada um adquire ou aluga uma unidade num conjunto de salas tendo uma recepção em comum. Cada profissional recebe individualmente a receita gerada pelos seus clientes, arca com os seus custos e despesas da sua sala. As despesas da área comum compartilhada, isso é, recepção, banheiros, sala de espera, etc.) são divididas em partes iguais para cada membro.

Por exemplo:

A Drª. Patrícia aluga uma sala e o Dr. Pedro aluga outra montando consultórios distintos. Cada um é responsável pelo seu consultório. Cada um arca com seu aluguel, suas despesas, custos e auxiliar técnica. A sala de espera, recepção, recepcionista, folheteria, etc. são compartilhadas e suas despesas rateadas pelos dois.

Neste modelo é geralmente adotado um nome único de “clínica” ou “grupo de saúde” e há compartilhamento de clientes que são captados individualmente, mas todos se beneficiam.

Desvantagem desse modelo:

Um membro não pode indicar aos seus clientes profissionais externos de especialidade concorrente de outro membro do grupo e nem recebe indicações de profissionais das mesmas especialidades existentes na clínica.

Como você pode observar, não existe um modelo perfeito de sociedade. Todos os modelos existentes possuem vantagens e também desvantagens.

* César Souto é graduado em Ciências Contábeis e Especializado em Administração Financeira, em Gestão de Pessoas, em Gestão Estratégica e em Psicologia do Trabalho. * Dr. Roberto Caproni é graduado em Odontologia e em Administração de Empresas. pós-graduado em Marketing e Psicologia.

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